No ano de 2007, dia 09 de agosto, aproximadamente às 21h, sentado na poltrona da minha sala, cansado, após um dia exaustivo de trabalho, assistia com minha filha Quézia, um vídeo produzido pela Igreja Batista da Lagoinha, onde a Ana Paula cantava a história do Dilúvio e a causa dele: o pecado... E essa música pinta um quadro em que uma geração excessivamente decadente se formava: crianças e adolescentes malcriados!
Algo surpreendentemente corriqueiro nos dias atuais.
A Bíblia ensina o princípio da correção e da disciplina sobre os nossos filhos: "[...] pois que filho há a quem o pai não corrija?" (Hb 12.7b).
Apesar disso, por temerem leis que induzem represálias de algumas autoridades e de determinados grupos que se intitulam "representantes sociais", também por displicência ou por conivência com os erros dos filhos, os pais já não aplicam mais a disciplina e a correção sobre os maus-feitos dos seus adolescentes e das suas crianças.
Pois bem, prossegui assistindo aquele trecho do vídeo dessa música da Ana Paula e, intimamente, afirmava: estamos vivendo os mesmos "dias de Noé"...
À medida em que assistia, algo me incomodava na mensagem da música: "meninos eram malcriados... não respeitavam papai e mamãe..."
De repente, o telefone tocou. Ao chamado, atendeu minha esposa . Passou para mim. Do outro lado da linha, minha irmã caçula, Joelma... Voz embargada... chorando... falou para que eu fosse urgentemente à casa da minha mãe. Uma tragédia havia acontecido, disse ela. Perdido em meio a tantos pensamentos ruins que circularam pela minha cabeça naquele momento, saí em desabalada para lá.
Chegando no portão de entrada da casa da minha mãe, encontrei ela, minha irmã e o meu sobrinho, abraçados, chorando muito... diziam elas, entre soluços: mataram o Romel! Mataram o Romel!
Do mesmo jeito gritava meu sobrinho Cássio, que tinha 12 anos na época: mataram o papai! mataram o papai!
Desesperado por essa notícia trágica tentei segurar o mais que eu pude o grito da dor da perda. Dirigi-me aos policiais militares que ainda estavam por ali. Eles haviam ido levar a triste notícia. Perguntei-lhes se realmente o meu irmão tinha sido morto. Eles avisaram que sim. Então, saí com eles, mas não estava acreditando naquilo e queria ver o corpo do meu irmão. Eu recusava a acreditar terem assassinado o meu irmão. Que ele estivesse morto...
Ainda passamos na central de polícia civil, mas não tinham pego os assassinos.
Três criminosos juvenis, chamados pelo termo politicamente correto de "menores infratores em conflito com a lei" mataram o meu irmão... A nós, que fomos açoitados pela dor profunda que o assassinato traz às famílias, a criação desse termo nojento em nada altera o que pensamos a respeito desse assunto.
Depois, saímos de lá para o IML. Foi naquele local que eu vi o corpo inerte do meu precioso irmão...
Meus olhos viam o inimaginável. A dor dominou a minha carne e a minha alma angustiou-se profundamente. Eu não queria que aquela cena fosse verdade. Assassinaram mesmo o meu irmão. Por que fizeram isso com ele, pensava eu.
Saí dali em desespero e pranteei muito a perda prematura e brutal do meu irmão, grande homem, um grande guerreiro, homem muito honrado, mesmo em meio às suas limitações humanas. Interromperam o fluxo de vida de uma pessoa muito especial.
A vida do meu irmão foi tirada pelo disparo de uma arma de fogo contra o crânio dele. Abordagem covarde e vil, encetada pelas mãos de três assassinos juvenis.
Não fosse o consolo de Deus, não suportaríamos determinados fatos e circunstâncias dessa natureza, as quais todos nós estamos sujeitos a passar. Aliás, sobre essas coisas só tem autoridade para falar delas quem já passou por algo semelhante.
Patifes, assassinos juvenis, acobertados por uma filosofia perversa que justifica a vileza e a maldade humanas rotulando-os vítimas da ausência de condições sócio-econômicas. Essa postura tem liberado essa orda de criminosos juvenis de suas responsabilidades como seres morais.
As normas vigentes do nosso País, nesses casos, são complacentes e ajudam, pela indulgência exacerbada, esses criminosos, que se alastram e banalizam o respeito à vida e aos valores do convívio social regular. Mais uma vez, o pecado humano, indulgente que é, vai avançando, tentando se sobrepor ao bem, ri da desgraça alheia e faz gracejo da dor do outro, trabalha ativamente para a banalização da perversidade, da desobediêndia, do desrespeito e da malandragem infanto-juvenil.